O dia em que fui cooptado pela direita/ As manifestações e a ingenuidade do revolucionário
Uma das coisas que mais chamou a atenção nas manifestações das últimas semanas foi justamente o furor das pessoas que estavam nas ruas. Algo compreensível vindo do "cidadão comum", que se sente "cheio" de tudo o que está aí e busca mudanças a qualquer preço. Porém, é difícil compreender tal comportamento desmedido de pessoas que supostamente conhecem o funcionamento do sistema, e o funcionamento do Brasil (o que é a mesma coisa). O que se pode observar é uma ingenuidade total que parece ter tomado conta de jornalistas, professores, artistas e quem mais você queira incluir na lista dos supostos entendidos. Ingenuidade quanto ao movimento ou quanto às consequências deste.
É quase impossível de acreditar que no cenário atual de dualidade política/ partidária brasileira a mídia e as forças políticas se mantivessem longe dos debates das últimas semanas. Estes já nascem orquestrados. Talvez não pelos organizadores em si, mas por quem não dorme e vive, sonha com o poder e a perpetuação do estado de coisas. Daí a dificuldade em entender o que muitas pessoas pensavam e escreviam. É como se tivesse chegado o momento da revolução, do governo dos trabalhadores. Só que sem trabalhadores, sem organização...
O preço da passagem já não importava. Cartazes com diversas críticas, caras pintadas, hino nacional, apartidarismo, (ou anti-partidário, ou anti partidos de esquerda). O movimento que eclodiu por diversas cidades do Brasil não se iniciou nas periferias, não foi de início um grito daquele que mais vai sofrer para pagar a condução. Não, a revolta veio de cima, e o pobre foi cooptado, como sempre, quando a direita entrou de sola. E quem em tese deveria defender o trabalhador, por conta do conhecimento, também foi influenciado facilmente pela "onda de politização" que abalou o brasileiro e o retirou do limbo intelectual em que estava mergulhado. Do dia para a noite (detalhe).
Muito estranho mesmo. Como uma hipnose... Muitos dos que acordaram apenas parecem tê-lo feito ao ver o Congresso Nacional sitiado, ou o Itamaraty pegando fogo, bandeiras de partidos de esquerda sendo queimadas para aí sim lembrar dos caras pintadas ou do golpe de 1964. Revendo posicionamentos, entrevistas, declarações. Tarde. A confusão instaurada, parte do grupo mais pobre da sociedade apoiando uma proposta que vem de encontro aos seus ideais, com a mente impregnada pela visão da mídia, com seus Ratinhos, Resendes, Datenas, e a Globo. Por vezes é cobrado do povo que não se deixe levar pelo que a imprensa expõe, mas os que cobram isso, por total falta de malícia, caíram numa armadilha e foram arrastados para a revolução. Revolução burguesa, da direita, o golpe.
Bruno Oliveira
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