Queremos uma saúde melhor! Mas não queremos médicos estrangeiros, não vamos atender nas periferias, nem no fundão do Brasil.

A existência de medidas que beneficiem a população é o anseio de todo aquele que a cada dois anos dá a sua colaboração para a permanência do sistema democrático/ eleitoral vigente. Vimos que nos últimos dias uma pressão popular/ midiática criou uma conjuntura na qual os governantes em todas as esferas viram-se obrigados a movimentar-se mais que o de costume, pelo menos em prol da população (sim, eles trabalham, aprovam leis, que atendem aos interesses de seus verdadeiros patrões). O que é interessante é que com a movimentação do governo, alguns setores da sociedade negam esta, quando busca melhorar a vida do povo. 

Um dos gritos dos manifestantes de junho de 2013 era por uma saúde de melhor qualidade. Entende-se que esta saúde de melhor qualidade deva ser para todos, ou emergencialmente para os que mais precisam. Mais saúde quer dizer também mais médicos e melhor remunerados. E eis que, quando após anos de governos que jamais olharam pelos mais pobres (e o atual está longe da perfeição), alguém formula um programa visando levar médicos para a periferia e para os locais mais afastados do país, a classe médica pequeno-burguesa nega totalmente as medidas. Mas por quê?

Porque o governo incluiu em sua nova política de formação um olhar para os mais pobres, através da residência no SUS. O programa consiste em levar médicos às periferias e aos extremos do Brasil por um pequeno salário de R$ 10.000,00, nos últimos anos de formação do médico. Sobrando vagas contratam-se médicos de fora do país. Mas pergunta-se novamente: com um bom salário, emprego durante a formação, por que não aderir o programa do governo?

Com o repúdio da classe médica ao programa podemos observar uma coisa muito interessante, que pode ser também observada em diversas outras áreas. Todos querem saúde, educação, de qualidade. Mas quem está disposto a colaborar de fato para que os setores tenham um alto padrão? 

Queremos saúde de qualidade, mas não queremos trabalhar no SUS. Queremos educação de qualidade, mas não queremos passar nem perto de uma escola pública. Ora, é muito mais fácil lecionar para crianças que tem uma família estruturada, não vivem um cotidiano violento, não sofrem com preconceito social ou de raça. Mas dar aula na periferia, onde todos os conflitos do ser humano gritam, é sim muito mais complicado, mas é este o local onde o professor deve estar se quiser mudar a realidade social de sua cidade ou país. E assim também é com o médico. É sabido que a estrutura hospitalar brasileira é falha. Porém, os mais necessitados apenas tem acesso a esta, e não ao Sírio ou o Einstein, onde o médico sonha trabalhar. 

Construir um país melhor passa pelo olhar aos mais pobres, e por ações que melhorem as condições de vida destes. É deixar de olhar para o próprio umbigo e entender no atual sistema 'para que todos tenham um pouco mais talvez eu deva almejar um pouco menos'. Não lecionar em um colégio de excelência ou não apenas ali, e buscar a periferia, Não pensar em trabalhar somente em hospitais conceituados, onde o pobre não passa sequer pela calçada, e buscar as regiões carentes, afastadas, onde numa consulta o médico 'nem olha na cara do paciente'. 


Não aceitar trabalhar em regiões carentes e não aceitar também a contratação de médicos estrangeiros para fazê-lo prova que a classe médica não está preparada para desenvolver o olhar social, necessário para reduzir as mazelas. Ou está comprometida com uma agenda conservadora que faz questão de retirar o crédito de tudo o que é feito pelo governo, sugerindo total incompetência deste. Ou os dois. O fato é que se essas medidas não forem tomadas o povo vai continuar sem médicos. E enquanto as buscas individuais forem mais importantes que as buscas do todo, as ideias em torno de uma sociedade mais justa não passarão de uma falácia.

Bruno Oliveira

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