Rolezinho não rola?
Porém, uma coisa que dificilmente veremos é a mídia defender o direito de ir e vir quando quem infringir o mesmo for a elite. Sim, a elite também infringe o direito de ir e vir. Nas últimas semanas se espalhou pelo Brasil uma prática adotada por jovens, na sua maioria da nova classe média, chamada de rolezinho. O rolê, pelo menos na periferia, já é prática conhecida e há muito adotada pelos moradores. Há os que conhecem, os que não conhecem e querem conhecer e os que não conhecem e não querem conhecer. E aí é que reside o problema.
Quem vem da camada mais pobre da sociedade sabe como funciona. A coisa é séria. O que se vê na tv, com casas grandes, onde o morador tem espaço para o lazer é para receber pessoas não existe. Os grandes quintais nas periferias são as ruas, onde as portas dos cômodos muitas vezes dão de frente. A periferia sempre ocupou o espaço que tem. As ruas, vielas, calçadas. E ninguém jamais se preocupou em saber se as crianças da quebrada brincavam em parques ou nas ruas.
Mas quando essas mesmas crianças, agora adolescentes ou adultas tem como ocupar também o espaço reservado historicamente à elite, o problema está instaurado. Mesmo um consumidor em potencial passa a ser renegado, por suas características.
A questão não é o que você pode comprar ou não. A mensagem que podemos identificar com os mandatos de segurança contra o rolezinho é a seguinte: não queremos vocês aqui. Saiam do nosso espaço. Esse não é um lugar para jovens de periferia, descendentes de africanos ou de indígenas. É a maior prova do preconceito existente na sociedade brasileira. É o negro enquadrado com um carrão, o moleque pobre com um tênis de marca, a molecada dando um rolê no shopping. Para a elite, todo mundo ladrão.
Te vendem o capital. E quando você pode usufruir um pouquinho só dele, te dizem não. De verdade, não sei se é vantagem tentar forçar a entrada nesse mundinho de shopping, ou se é melhor deixar eles viverem isolados essa "branquitude" preconceituosa.
Bruno Oliveira
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