Complexo de vira-latas - Parte 1
É de causar espanto o complexo de vira latas sofrido pelo povo brasileiro. O fenômeno de americanização, ou globalização/ massificação da cultura ocidental (europeia/ norte-americana) criou o ideal de destruição da cultura brasileira, e do ser brasileiro. Na verdade são duas ideias, dois esteriótipos de mundo. Um perfeito, das maravilhas, New York, Holywood, Vegas, a civilização, em contraponto com o limbo, o abismo, a desorganização e barbárie vivida nos trópicos. Terra quente, todos suados, pele brilhando. Danças exóticas, cores exóticas. O negro, o vermelho. Pensando assim, remonto minha visão. Antes de terminar o contraponto entre o perfeito e o lixo. A terra quente, de negros e índios, já é o antônimo da metrópole. É o contrário de Lisboa, o local para onde ninguém quer ir. Navegar um mês e meio para ficar entre os bárbaros no Brasil? Então a coisa já vem de longe, desde a colônia.
Mas voltemos aos EUA. Os Estados Unidos são o aperfeiçoamento das antigas metrópoles. Roma caiu, a Europa envelheceu. Se Londres e Lisboa não são mais o que há de top, se não ditam tendência, temos para isso os Estados Unidos. Os colonos não mais olham para a Europa, mas sim para a América do Norte. Nos EUA está a vida que se quer levar. A versão moderna do viver londrino, a vitória, o sucesso, o que é belo, ou é pregado assim. E quem não é? Quem não está lá? Ora, imite!
E é exatamente isso. Convencionou-se dizer que o viver brasileiro é indigno, é baixo, pobre, e por isso deve ser descartado. E da mesma forma que ocorreu com o ex escravo, com o índio, algo devia ser feito também para modificar a cultura nacional. E aí se inicia o processo de imitação. Europeização e americanização.
Porém, as coisas não aconteceram exatamente como alguns grupos queriam. O negro não desapareceu do mapa brasileiro, como queria a elite apoiando-se na teoria do branqueamento, e o viver africano, e indígena, colaboraram sim para a construção do ser brasileiro. O fato de não ter como mudar esse panorama, não quer dizer que os poderosos iriam concordar com o mesmo, e viver a brasilidade vinda da senzalas. O modelo perfeito é o do capital. Branco, corado, risonho, das luzes nas grandes cidades. Da TV, do progresso! Se eles tem, você também pode ter! e viva o American way!
A venda do estilo de vida capitalista, não é exclusividade da elite brasileira. Nem nasceu com esta. Mas é certo que o sistema, ou os donos do poder, precisam de alguns vendedores, gente que diga ao povo: "Vamos viver assim... isso é vida... olha como estão felizes... Você também quer ser feliz não é?...". E a elite brasileira é mestre em vender o estilo de vida do capital/ europeu/ americano. E como isso se dá? Opa! Através da propaganda. TV, cinema, música, ah, a mídia! E assim se faz um mundo, ou a ideia de um mundo perfeito, que todos devem seguir. A partir daí temos a dualidade. O lado bom da vida, e a barbárie. O grande problema é quando as pessoas realmente passam a pensar que estão vivendo a barbárie.
Bruno Oliveira.
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