Projeto de mundo para o século XXI e o ataque às democracias na América Latina


Nas últimas semanas assistimos a uma série de movimentações políticas transcorrerem pela América Latina, entre as quais se destacam as experiências de Chile e Bolívia.

No primeiro caso, a população chilena protesta contra os rumos da economia e a situação do serviço previdenciário do país, que assiste seus idosos se aposentarem com salários ínfimos, fruto do sistema de aposentadorias implantado na era Pinochet, no qual se inspira Paulo Guedes para realizar a reforma da previdência aqui no Brasil.

Na Bolívia o governo de Evo Morales foi implodido. Em pouco tempo, uma das economias mais elogiadas no continente americano nos últimos tempos passa por um destempero político total, que culminou com a renúncia de Morales e a crise que assistimos então.

Ora, poderíamos encarar as determinadas situações como parte de um movimento natural de reação dos povos a governos ruins, ou autoritários. Porém não podemos esquecer a questão histórica e o cenário a que chegamos em 2019, quase 2020, e não devemos também deixar de relacionar a conjuntura global com a questão local e as realidades nacionais.

Nada no mundo se dá de forma isolada. Estamos no limiar de 2020, no mesmo limiar da 4ª revolução industrial, que é não apenas um fenômeno de produção, mas também uma revolução social. Portanto a configuração de mundo pensada pela elite faz total diferença na organização dos países em desenvolvimento.

Dada essa colocação, é preciso complementar a mesma de maneira objetiva: Não há autodeterminação dos povos frente as relações de poder colocadas no capitalismo. A justa ideia de democracia, autonomia, a que os povos e nações fazem direito é incompatível com a ideia de mundo da elite global.

A elite não aceita a autodeterminação. Não aceita outra realidade que não seja o domínio global emanando de si, e destruindo os ideais de sobrevivência das nações e povos não alinhados ao ideário burguês.

É bom lembrar. Os burgueses ensinaram o mundo a fazer revoluções. E não derrubaram os reis na Europa, e principalmente em 1789, para dar aos povos ao redor do mundo a possibilidade de se auto organizar social, econômica e politicamente. A burguesia fez as revoluções para se tornar o grupo dominante.

A queda do muro de Berlim inaugurou a chamada vitória do capitalismo. Não que o regime soviético fosse o exemplo de organização popular e não o foi. Mas não ter uma contraposição ao ideário capitalista fez com que as coisas caminhassem muito mais facilmente. E caminharam de forma a consolidar o capital como sistema político econômico totalitário. Tendo o mundo desenvolvido como centro de controle e de usufruto das benesses do sistema, e o restante do globo como área de extração de riquezas e produção para bancar a vida perfeita dos ricos.

Dessa forma, tudo o que acontece no plano político econômico fora do mundo desenvolvido tem como objetivo consolidar a ordem capitalista pós Guerra Fria, aprofundar um nova ordem mundial. Não que as tensões vindas de ideias diferentes não existam, não que a luta popular não exista. Mas somos vistos por eles como gado.

Daí situações como as de Chile e Bolívia. A elite pressiona a soberania das nações criando problemas e logo após oferecendo soluções para estes.

No Chile a própria previdência proposta pelo sistema quebrou. A chance de o próprio sistema financeiro entregar uma opção pronta para a população é grande. E assim o povo terá a sensação de que o problema está resolvido. Até a próxima crise.

Na Bolívia o neoliberalismo acrescido de um fundamentalismo religioso cristão bate à porta. Prega Deus enquanto mata pessoas nas ruas. Há um problema. Logo haverá também um solução proposta pelo sistema, que na verdade perpetua a escravidão do povo, escondendo a mesma desse com uma cortina de liberdade, protagonizada pela democracia burguesa. Também até a próxima crise.

O fato é que a cada dia as nações caminham para o poço sem fundo do imperialismo, e a autodeterminação dos povos deixa de existir. Ou se adequa às regras do jogo imperialista, ou sentirá a repressão deste. Tudo dentro do capital, nada fora dele. Tudo conforme as regras da elite, ou então, conhecerá o limbo.

Apenas a autodeterminação dos povos é capaz de superar o processo de dominação perpetrado dia após dia. Porém, apenas saindo da alienação poderemos falar ao povo sobre democracia, soberania e liberdade. E sair da alienação propagada pelo sistema é o mais difícil.



Bruno Oliveira - Professor e blogueiro iniciante. Licenciado em História pela Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN. Especialista em História, sociedade e cultura pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP. Licenciado em Pedagogia pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. Criador do Pensando bem.

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